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Mulheres, o que esperamos delas?

Quem me conhece sabe que eu adoro conversar sobre a temática feminina. Falar dos novos
papéis sociais da mulher e de todos os problemas atuais que enfrentamos me leva a conversar por horas, com quem assim quiser e estiver disposto.

Então, não poderia ser diferente por aqui. Vamos conversar um pouco sobre o papel social da mulher.

Destaco abaixo um histórico das vitórias femininas:

1827 – Lei para abertura de escolas públicas para mulheres – Brasil

1932 – Direito a voto no Brasil

1939 a 1945 – Segunda Guerra Mundial

1934 – Primeira deputada eleita: Carlota Pereira de Queiroz

1961 – Pílula anticoncepcional

2006 – Lei “Maria da Penha” - Lei n. 11.340, sancionada em 7 de agosto deste ano.

2010 – Eleição da primeira presidente – Dilma Vana Rousseff

O direito a educação, que foi conquistado em 1827, foi apenas o início da luta das mulheres no mercado de trabalho, pois os currículos das escolas, segundo Ivan Aparecido Manoel (Igreja e educação feminina - 2008), citado por Bataline e Fascina abordavam “ leitura, escrita, quatro operações, gramática, moral cristã, doutrina católica e prendas domésticas”, tendo em vista a visão do papel social da mulher, que era, de mãe, educadora de filhos e zeladora do lar.

No período da segunda guerra mundial houve um incentivo velado para que a mulher entrasse no mercado de trabalho, isto porque havia uma necessidade de mão de obra nas fábricas, já que os homens estavam na guerra. O cartaz mundialmente famoso que ilustra este artigo é uma das peças publicitárias que buscavam convocar as mulheres para serem nacionalistas e lutarem pelo seu país, dando apóio a seus homens que estavam na guerra.

Quando a guerra acabou, os homens voltaram para casa, mas não as mulheres. Se iniciou então a guerra dos sexos dentro dos lares e das empresas. As mulheres não recebiam os mesmos salários que os homens, eram discriminadas e não possuíam condições adequadas de trabalho.

Mas as mulheres seguiram conquistando. E a sociedade foi se adaptando aos novos papéis das mulheres, claro, que com muita resistência.
Alguns fortes entraves sexuais foram quebrados com o advento da pílula em 1961, agora, as mulheres poderiam associar o sexo mais ao prazer do que a procriação.


A inserção da mulher na política nacional se iniciou em 1932, e em 2010 foi eleita a primeira presidente do Brasil, fato comemorado pelo feminismo.

Porém estamos longe de sermos absolvidas das leis patriarcais, e quando uma mulher erra em alguma atividade, não é incomum se ouvir algo como “ Lugar de mulher é pilotando fogão” ou ainda “tinha que ser mulher”. A presidente Dilma que o diga, na atual situação política onde não podemos negar as falhas de todo o quadro do governo, não é incomum ofensas sexistas, que trazem a tona de forma muito transparente a discriminação. Dilma é ridicularizada por sua aparência, sua personalidade, e são lançados adjetivos de baixo escalão que indicam “o pior que uma mulher pode ser” numa sociedade machista (puta!). Ainda se espera da mulher a fragilidade, a bondade e a delicadeza, ainda não se aceita que mulheres sejam fortes, corajosas e inteligentes.

Entre os ataques recebidos por Dilma, um adesivo foi amplamente comentado por seu conteúdo sexista, o que levou a uma nota de repúdio da ONU Mulheres Brasil;


Lucelene Garcia, em seu artigo “”A mulher e a evolução dos seus direitos”  descreve as contradições modernas do papel social feminino:

Historicamente, a mulher ficou subordinada ao poder masculino, tendo basicamente a função de procriação, de manutenção do lar e de educação dos filhos, numa época em que o valor era a força física. Com o passar do tempo, porém, foram sendo criados e produzidos instrumentos que dispensaram a necessidade da força física, mas ainda assim a mulher içou numa posição de inferioridade, sempre destinada a ser um apêndice do homem, jamais seu semelhante.

A mulher se depara ainda, hoje com esta contradição: por um lado, uma herança histórica que a limitou a ser mãe, esposa; por outro, a possibilidade de escolher seu futuro e se fazer sujeito de sua história, bem como da humanidade, em pé de igualdade com o sexo masculino. Porém, é no interior dos lares que vem à tona o lado mais obscuro e cruel desta contradição, muitas vezes com a conivência da própria vítima: a violência doméstica do marido ou companheiro contra a mulher

A violência contra as mulheres, seja ela verbal ou física, tem crescido assustadoramente, a contraponto dos direitos conquistados, e ainda que exista a Lei Maria da Penha, observa-se restrições na sua aplicabilidade, e muitas mulheres denunciantes ainda continuam sendo mortas.  Maria Cláudia Siqueira Dutra comenta  acerca das raízes da violência contra as mulheres no Brasil:

Em relação à mulher, era comum, a punição do adultério pela morte. Já o homem não sofria penas por experiências extramatrimoniais. Teles e Melo registram que em Potugual, até 1830, os homens podiam matar uma mulher adúltera. Portanto, as agressões físicas e psicológicas contra as mulheres fazem parte de nossas raízes culturais.

Um dado alarmante foi divulgado pelo secretário estadual de Segurança Pública do Espírito Santo, André Garcia, referente as estatísticas de 2014: Uma mulher é agredida a cada 5 horas no Estado.

A definição de papel feminino na sociedade ainda não está clara. Foram muitas mudanças e conquistas que nem as mulheres assimilaram. Não é incomum que as mulheres exijam umas das outras que sejam boas donas de casa, saibam cozinhar, sejam trabalhadoras, boas mães, sejam belas, inteligentes, etc, etc, etc.

Mulheres perfeitas não existem, mas é a exigência moderna, um castigo para a mulher, que trabalha com jornada dupla e acúmulo das funções do trabalho e de casa. Ainda está enraizado na cultura popular “o trabalho de casa é responsabilidade feminina”, e constantemente dizemos “meu marido me ajuda”, assumindo que somos responsáveis por isso e intrinsecamente não damos conta.  As mulheres ainda precisam se libertar da culpa e do julgamento social  para serem felizes.

A exigência por corpos perfeitos, entrega milhões de mulheres nas mãos de cirurgiões plásticos todos os anos. Somos julgadas por tudo.

As empresas ainda oferecem salários 30% menores para mulheres na mesma função dos homens. Ainda ouvimos a preocupação dos empregadores na contratação de mulheres com idade fértil (Lembra do caso da escala de gravidez da empresa de Call Center? Leia: http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2014/09/empresa-cria-escala-de-gravidez-e-diz-quando-funcionarias-podem-ter-filho.html  ).  As mulheres ainda tem que escolher entre a carreira e a maternidade e boa parte ainda se sente culpada por não se dedicar plenamente a uma das duas funções. Ainda esperam que todas tenham vocação para ser mães, não aceitando bem que algumas não a tenham. Ainda esperam que as mulheres não se intrometam em assuntos considerados masculinos, e não apareçam nas salas de exatas. Ainda esperam que elas estejam prontas para casar, e saibam cuidar perfeitamente de um lar.
Ainda esperam que não levantem suas vozes, ou que fiquem a sombra dos grandes homens. Ainda esperam que fiquem caladas diante dos insultos, que não se levantem e lutem.

Mas eu sinceramente só espero que as mulheres se libertem da culpa de não ser o que se espera delas, e espero que elas sejam o que quiserem.

Espero uma nação onde uma mulher possa ser o que quiser, assumindo o papel que desejar, e sendo plenamente respeitada por isso.



Bibliografia






BATALINI, Marcela Gizeli  e FASCINA, Diego Muller  - FEMINISMO E EDUCAÇÃO: UMA LEITURA DO DIREITO DA MULHER DE FREQUENTAR A ESCOLA – 2011.


Acesso em 15/10/15

Acesso em 15/10/15

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